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sábado, 1 de fevereiro de 2014

360º

Se eu pudesse resumir a que pé anda minha vida nesse momento não conseguiria. Dizem que quando se escreve, dá forma àquilo que pensa. Será que é possível descrever isso que estou sentindo? Não faço ideia de quando começou e muito menos, onde é que vai parar. Tá tudo estranho, fora do lugar... mas só na minha cabeça é claro.

Intensa à milésima potência desde que me entendo por gente. Hoje me vejo num caos, onde tudo está fluindo perfeitamente, mas tem sempre algo me puxa pra trás, ou talvez, apenas me impede de entender que posso estar simplesmente feliz.

E que felicidade é essa? Quem é que está feliz? Eu! Eu?

As vezes parece que tenho uma sobrecarga de uma pessoa de 50 anos, com filhos pra criar, renda curta e um marido que trai. É como se olhasse pra trás e arrependesse de não ter me esforçado tanto. Mas esse meu "passado" está acontecendo agora, esse é o meu presente! O medo de não dar conta faz isso comigo. Ganho pouco. Pouco? "você só tem 20 anos, trabalha em um ótimo lugar, em menos de 12 meses estará graduada, namora com um cara bacana, tem uma família de ouro, tem planos, é batalhadora, corajosa, feliz!" Pois é, meu Deus, pois é!

Acontece que tinha algumas certezas que hoje me confundem, me tiram o sono, me preocupam.

A vida inteira via os jovens como pessoas inconsequentes. Nunca vi graça em sair por ai fazendo o que vinha na cabeça. Parece até praga dos colegas de escola, que diziam que eu me comportava como uma velha de 60 anos. Justiceira, moralista, cheia de princípios. Essa sou eu! Ou era eu?

Não preciso me vitimizar. Tudo que fiz, foi com a certeza de que me conhecia demais. E perai... eu ainda me conheço, não?

Sinto que me tiraram a pureza, desde cedo. Sem drogas, sem álcool, sem chantagem... fiz tudo que fiz! Sem me sentir influenciada, sem me arrepender. Apenas esqueci o que me foi cômodo. Sem mágoas, sem lembranças!

E aconteceu... me via um peixe fora d'água, não tinha com quem conversar. Tinha 12 anos. Nenhuma dúvida, nenhum medo, nenhuma consequência. Não sabia que o que tinha feito era tabu, era feio, era criticado. Contei para algumas poucas pessoas, que ainda se lembram do que fiz questão de esquecer. Mas foi bom, foi puro, foi coisa de criança.

Confiava nas pessoas que presenciaram esse momento. Elas não me disseram que era cedo, que era errado, então, simplesmente não sabia. Fui descobrir mais tarde. E agradeço meu anjo da guarda, que foi o único que me protegeu.

Depois disso, me vi apegada a coisas diferentes do que me era imposto pela minha idade. Detestava que chamassem minha atenção. Evitava fazer qualquer coisa que me fizesse sentir culpa. E ia até o fim se fossem injustos comigo. Quando errada, não pensava duas vezes e pedia perdão. Culpa ainda é um dos piores sentimentos que existem.

Vivi rigorosamente fiel a mim mesma. Sem sair quase nunca da linha. Aquele sentimento me matava!

Era moralista demais pra minha idade. Era chata! Era defensora das minhas ideias. Gostava de falar de mim e do que eu acreditava. Gosto e sou assim até hoje.

Passado esse trauma, as coisas que fiz e que não eram totalmente aceitas, eram no mínimo certas para mim. Fazia com responsabilidade, assumindo os riscos. Dano lição de moral até para mim mesma.

Sempre me senti bem falando da minha visão do mundo. Moralista MESMO!

Aprendi com os anos que poderia ser moralista, sem que os outros seguissem minha linha de raciocínio. Mas sofri até chegar nesse ponto. Só de pensar me doi! Julguei tanto as pessoas, tanto! Era sincera demais, falava o que devia e o que não devia. Saia vomitando as palavras. Saia dizendo de qualquer jeito o que achava.

Até que percebi que não era dona do mundo. Para isso, apanhei. Mesmo, no sentido literal da palavra!

Quando digo para as pessoas que conviviam comigo nessa fase que mudei, acho que elas não acreditam!

Acho que uma das qualidades mais nobres que tenho é aprender com meus erros e com os erros dos outros. Como estudei... não é preciso passar fome para saber o quanto é sofrido. Melhor assim, não?

Por mais madura que esteja, acreditava em coisas de menina. Por mais que não assumisse esse meu lado.
Me vi tão responsável que assustei. Me transformei em uma ótima aluna, apaixonada pelo meu curso, disposta a tirar notas acima de 80% e a aprender mais e mais. A defender um curso pouco valorizado. A liderar pessoas, a dar exemplo. A fazer jus ao investimento dos meus pais. A aceitar que um dia serei dona de mim. E colherei os frutos que estou plantando.

Confesso que minha família assustou. Foi uma mudança grande, mesmo! Tinha tudo para dar trabalho. E não dei. Trabalho nenhum.

Todo conflito grave que vivi, superei sozinha. Putz, é mesmo! Não tinha feito um balanço disso ainda.

Resolvi que só eu devia satisfação a mim mesma, que não tinha que dar explicações a mais ninguém. Já paguei pelo pecado de querer que todo mundo sentisse o mesmo que eu. Já fiz as pessoas odiarem alguém e depois sofri porque eu perdoei e eles não! Resolvi então me matar, mas não contar pra ninguém.

Lembro que fiz tratamento psicológico por 7 anos, sem nunca ter comentado sobre o que me fez sofrer muito. Rodeava, mas não contava! Nunca chorei na terapia, engraçado né? Mesmo quando o que mais precisava era de ajuda profissional. Nem sei como me ajudei. Talvez esteja tudo preso e eu esteja desabafando só agora né? Pode ser!

Não me sinto forte por causa disso.

Vamos lá, me sinto forte por causa disso sim, mas não o tempo todo. As vezes me sinto fraca por ter aceitado muitas coisas ruins que me fizeram. Me sinto culpada por isso. Sofro, muito ! Sofro demais!

A minha pureza foi arrancada. Toda aquela moral, destruída. Era uma princesa, tendo certeza que aquilo que eu acreditava seria suficiente pra me manter na linha, segura, firme, correta! Fiel a mim mesma amava, dedicava aquele amor, era fiel a meus amigos. Nunca mentia, nunca contava segredos, nunca negava uma palavra de conforto.

E entrando enfim no que me perturba hoje, estou triste, fraca,incapaz, confusa.

Quando tinha uns 14 anos, o professor de cultura religiosa questionou os alunos: "quem aqui acha que se conhece totalmente?" Eu eu levante a mão: "eu!" e o professor: "tem certeza?" e eu: "absoluta"! e tinha mesmo! Até que me vi como nunca imaginei.

Decepções todo mundo tem e não mata! Não morri, estou aqui. De pé, trabalhando, sorrindo ao dar bom dia, me orgulhando da pessoa que me tornei. Amando as pessoas que correm ao meu lado. Fazendo amizades, cultivando admiradores.

Acho engraçado que muitos admiram minha garra, coragem, meu pé no chão. Minha força de vontade, meu lado mulher dentro de 1,54m. Desde nova escuto que sou muito madura.

Acho que porque sempre dominei as palavras, sempre disse em alto e bom tom quem eu era, do que era capaz, do que almejada. Sempre fui realmente segura de mim, independente. Realmente me conhecia demais. Sempre me entendi e me respeitei.

Hoje me sinto querendo apenas ser... jovem. Apenas ter 20 anos. Apenas ser filha única. Aceitar ser cuidada. Só por uns dias.

Hoje não quero pensar em como será daqui a 10 anos, ou no cardápio do meu casamento. Hoje quero deixar em stand by os nomes dos meus filhos gêmeos. Hoje quero não ter a certeza de que irei casar com ele. Não tenho a obrigação de casar com ele. Porque sinto que tenho? Porque sinto que ninguém entenderia o que eu passei? Porque me julgo tanto?

Acreditando em príncipes, ele me apareceu. Nada de corpo escultural, boca carnuda, trabalhador e romântico. Um metro e 70, talvez, acima do peso, em busca de uma atividade física. Simpático ao extremo, daqueles que dá bom dia ao porteiro, ao lixeiro, a vizinha. Daqueles que adora um abraço e um carinho no cabelo. Daqueles que amam um elogio. Falo "daqueles" mas acho que assim só ele.
Apegadíssimo a família, sofreu por estar longe, por não ter alguém para compartilhar o café da manhã. Fui amiga, fui esposa, fui irmã, mãe. Fui amigo de assistir jogos de futebol e até me arrisquei no vídeo game. Fiz café da manhã, almoço e janta. Arrumei a cama, dei presentes incríveis, me senti completa. Fiz e faço, de todo coração. Como disse, sou fiel a mim mesma.

Fidelidade... pra mim era inata e comum a todos. Como pudia realmente ser....

No começo, as mentiras me pareciam estratégia na fase da conquista, até que um dia me preocupou: "você tem problemas com mentira?" perguntei. "não, porque?" "porque se tiver, quero te ajudar". Lembro como se fosse ontem.

E não havia de ter. Família perfeita, amigos fieis. Nenhum problema aparente. Defeitos facilmente controlados. Eis que não era bem assim.

Posso estar dramatizando as coisas. Talvez, se eu tivesse um pouquinho mais de maldade e um pouquinho menos de ingenuidade, doesse menos. Mas não. Infidelidade pra mim era coisa de novela. Era surreal pensar que alguém poderia olhar no seu olho e ter coragem de negar uma coisa que fez. Porque, meu Deus, porque?

Com todos os meus defeitos, com toda minha chatice, seja lá qual foi o motivo: NÃO JUSTIFICA! Acabou com a minha paz, acabou com os meus planos, acabou com meu sentimento. Destruiu, torturou, cada nózinho que tínhamos feito. E não era uma relação de anos, onde o sexo era ruim, já estava na mesmice, ou era a pessoa mais ciumenta do mundo. Nada disso! Ainda era a namorada companheirona, que comprava lingerie pra fazer surpresa, que comemorava cada dia 03, que sonhava em casar de branco. E mesmo que não fosse....

Há quem não acredite, mas logo cedo tive um sinal, senti que devia procurar por provas, não que fossem os primeiros indícios, mas foi quando mais doeu. Nem aqui, que ninguém vai ler, gosto de falar do que vi. Sei que tremia, batia queixo, chorava, e perdia o ar. Saí sem rumo, sem suportar. Não dava pra acreditar.

Resumindo e sem mas delongas, sem me torturar mais, foi de longe, a maior decepção que tive. Meu Deus, poderia ser qualquer pessoa... e nem é por isso, eu não sabia que isso poderia acontecer. Logo ele? Não foi um relacionamento que me entreguei com o pé atrás, e não me arrependo disso. Ele me conquistava diariamente, por isso doeu tanto. Nosso dia a dia era (é) perfeito! Puta que pariu, que dor, meu Deus, que dor!

Acontece que eu, sempre fiel a mim mesma, cheia de moralismo, aceitei, perdoei mas não esqueci. Não sei se confio mais, se parei de confiar e liguei o fodas. Juro que não sei. É isso que me faz escrever esse texto hoje. Não sei o que sinto, não sei porque estou com ele, não sei porque parece que nunca serei capaz de dar a volta por cima. Não consigo entender porque não me vejo (ou não me via) com outra pessoa. Sair dessa situação me parece impossível. Porque? Cadê a minha força que exala? E o quanto eu sou bonita?

Eis que me vejo assim, bonita, desejada, forte e fraca. Me senti forte quando comentei sobre isso com algumas pessoas, capaz de perdoar. Mas não é assim que me sinto o tempo todo. Me sinto fraca ainda, por não ter sido mais dura com ele, por ter sido passiva, boba. Como devo me sentir? Porque oscilo tanto nisso?

Acontece que, dois anos e meio de relacionamento, outros problemas surgiram. O dia a dia não é mais tão perfeito, os elogios são raros, a falta de paciência é frequente. O que me prende é a história, o mundo que criamos, cheio de palavras, regras, manias. É o quanto as coisas já são certas: final de semana juntos, férias na praia, aniversário de família. Pensar em abrir mão disso já dói.

Me sentindo sozinha (que é como estou) me vi bonita, vi que chamo atenção não pelo meu corpo, mas pela minha simpatia. Como isso é bom, se sentir viva. Sem detalhes, vi que existe vida após ele. Mesmo que essa "vida" tenha acontecido durante o namoro. Foi gostoso, foi bom, foi único. Não arrependi, não sofri mas também não caguei nem saí da moita. E estou mais confusa. Mas também mais feliz. Não por ter sido como foi, mas por conseguir me amar mais, voltar a me sentir segura de mim. O problema é: até quando?